domingo, 12 de fevereiro de 2012

Segundo dia


No dia 18 de janeiro, pegamos pela primeira vez o ônibus turístico de Havana (Habana Bus Tour). O seu funcionamento é simples: você paga 5 CUC por um bilhete, e durante esse dia você pode subir e descer quantas vezes quiser (não se esqueça de pedir o bilhete para a "cobradora" antes de descer!). Os locais de parada são os que têm uma placa indicativa (foto abaixo); mas caso você esteja na rua, não se acanhe em pedir parada, pois se for possível ele para! O ônibus fica girando até as 18h (se não me engano), e sua rota compreende havana velha, vedado, playa, passa por um bairro onde tem os um monte de hotéis que não sei o nome. Vá com um mapa, prestando atenção onde ele passa.
Parada.

    
Ônibus (há a parte aberta e a coberta).
Dele pode-se ir a todos os pontos turísticos em Havana que eu conheço. Nesse dia desci inicialmente na Praça da Revolução, onde há o ministério da indústria (tem a foto de Che), ministério das comunicações (tem a foto de Camilo) e o memorial José Martí (tem o elevador panorâmico). Pelo que eu me lembro se paga 3 CUC para entrar no memorial, mais alguns CUCs (talvez dois) para subir no elevador. A praça em si é enorme, e antigamente Fidel fazia seus discursos ali. Imagino que ainda seja usada para grandes comemorações, e talvez alguns discursos. 
Memorial José Martí.

Ministério da Indústria.

Ministério das Comunicações.
Visão do mirador.
Discurso de Fidel (repare a quantidade de gente).
Quando cheguei, e ao sair da praça, vi vários grupos de crianças fazendo excursão (a foto do blog foi tirada na Praça da Revolução). É impressionante como sempre há crianças nesses lugares históricos, conhecendo o que se passou no seu país, quem foram as pessoas responsáveis pelas mudanças, etc. Nunca visitei o sítio histórico da minha cidade pelo meu colégio. De fato há uma clara diferença entre o ensino aqui e lá: Aqui, desde a sétima série do ensino fundamental o ensino está focado no vestibular (como a história de Pernambuco pouco é questionada nesse prova, não vemos quase nada), enquanto em Cuba o interesse é mesmo a valorização da cultura (até porque todos, se quiserem, vão entrar na faculdade de qualquer forma).
Crianças na chegada.

Crianças na chegada.

Jovens na saída.
Depois peguei o ônibus novamente e desci na parada do Hotel Habana Libre Tryp. Daí dá para visitar a universidade, a sorveteria popular Coppelia, e pegar uma avenida conhecida como "La Rampa", porque é uma descida que acaba na Malecón, ao lado do Hotel Nacional. Ao longo dessa avenida há vários locais para comer e comprar coisas, com a vantagem de não ser uma área turística (consequentemente quase não ficam lhe pedindo coisas, lhe abordando na rua dizendo que gostam do Brasil e ao fim tentar vender algo, etc). Ao fim da rampa, no lado direito, há um pátio com uma lanchonete com pizza relativamente barata. Terminei não indo ao Hotel Nacional por preguiça, mas dizem que é bonito. Preferi ficar um pouco na Malecón, e à noite fui visitar a casa de um casal de amigos cubanos.
La Rampa.

La Rampa.

Malecón.

Malecón.


Além dos locais que eu fui nesse dia, outros lugares importantes que o ônibus passa são o Museu da Revolução, Museu Granma, Capitólio, perto do Castillo de la Real Fuerza e faz a volta na Igreja de São Francisco de Paula. Mas como todos são em Havana Velha, de onde estava dava para ir andando. Se for interessante para você, há parada também no Aquário Nacional e nos principais hotéis. Para finalizar, colocarei aqui algumas coisas sobre Martí que estava no Memorial (percebi que ele é mais lembrado em Cuba do que o próprio Che ou Fidel):
Os grandes direitos não se compram com lágrimas, e sim com sangue.
Os direitos se tomam, não se pedem; Se arrancam, não se mendigam.
José Martí.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Cuba e direitos humanos - 1ª parte

A questão da "liberdade de ir e vir" é muito criticada em relação a Cuba pelas midias hegemônicas neoliberais. Consequentemente, e de acordo com os objetivos destas, toda uma manada de pessoas saem pelas ruas repetindo acriticamente chavões, apoiados nos chamados direitos humanos. Como era de se esperar, o tema está mais em pauta do que nunca no decurso da minha vida política. Nos últimos meses constata-se duas séries de vídeo-propaganda; uma da emissora Globo, outra da Band. Recuso-me a chamar de reportagem porque o que é mostrado ali não é um relato científico sobre a situação do país, não condiz com o ideário jornalístico de imparcialidade e portanto nada tem a ver com os reais problemas e feitos da revolução cubana. Além disso, e estranhamente de forma coincidente, nesse época a blogueira mercenária Yoani Sánchez tentou vir ao Brasil e teve seu visto negado. Por isso tudo, junto a comentários avulsos contra Cuba (como as afirmações da Arnaldo Jabor, consideradas por ele mesmo a verdade absoluta e por isso carecendo de argumentação), tornam a ilha, na opinião do brasileiro, um exemplo de desrespeito aos tais direitos humanos.

O problema sério que percebo é a péssima qualidade analítica das pessoas, a qual é agravada (e utilizada pela imprensa neoliberal) por um senso de moral cristão. Apoiada numa ideologia cristã sobre bem e mau, certo e errado, e com base em fatos retaliados que essa população tem acesso, chega-se a tal conclusão errônea sobre Cuba. A falta de prática em raciocinar e buscar explicações acarreta numa absorção acrítica de opiniões alheias.

Os dados que vemos na midia, junto com o seu julgamento, são os seguintes: Cuba é um país miserável, que desde 1959 é governada pelo ditador Fidel Castro, que recentemente passou o poder para seu irmão, Raul Castro. Prova da ditadura é a existência de somente um partido, o Partido Comunista Cubano (PCC). Durante todo esse tempo, o governo ditatorial vem oprimindo a população, que quer fugir do país; haja vista algumas pessoas que conseguem e vivem hoje em dia muito bem de vida em Miami, e algumas que infelizmente ainda estão sobre os ditames dos irmãos Castro, como é o caso da oprimida jornalista Yoani Sánchez (http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/cuba-nega-permissao-para-yoani-sanchez-vir-ao-brasil). Além da falta de liberdade, há também falta de qualidade de vida e segurança; haja vista um depoimento de uma cubana que diz ter que dar café a um dentista para receber anestesia e ter que embalar sua mala para não ser roubada ao chegar no aeroporto de Cuba (http://www.youtube.com/watch?v=K0P83mln7ls).

Comentando rapidamente as questões internas, na verdade a denominação de Cuba como sendo uma ditadura não tem relação com a realidade, uma vez que de fato Fidel Castro foi eleito por todos esses anos e é querido pela população, e ele não passou o poder para o irmão, e sim Raul foi eleito quando Fidel encerrou a carreira política por conta da idade. Provavelmente falarei mais sobre o sistema eleitoral cubano em outro post, mas quem se interessar veja como funciona em http://www.youtube.com/watch?v=ZSfmocCKQVw. O PCC não sugere nenhum candidato, apenas organiza as eleições de acordo com os princípios da revolução. Uma eleição onde cada candidato é de um partido é típico de um sistema burguês, onda há classes e interesses distintos. No sistema socialista, a ideia é eliminação de classes, eliminação de diferenças econômicas nas decisões políticas, e portanto unificação da origem dos candidatos, que devem vir do povo e trabalhar pelo povo. Nesse ponto, Cuba é sim uma ditadura, pois a classe que está no poder representa os trabalhadores. Por outro lado, a partir desse entendimento de ditadura segundo Marx (classe dominante econômica-ideológica-militarmente), vivemos numa ditadura burguesa. Acontece que os neoliberais pintam o seu sistema como modelo ideal de democracia, e todos os outros sucumbem na negação desta.

Todo estado quer se manter no poder. O sistema eleitoral cubano visa a continuação da revolução socialista na ilha, enquanto nega características neoliberais. O oposto se dá nas ditaduras burguesas. Os governos liberais se denominam democrático, e dão uma aparente sensação de democracia. A força material do estado, porém, sempre é utilizada quando a situação sai do controle da sociedade civil, impondo assim, violentamente, a lei burguesa. Para notar isso basta analisar a história da América Latina:
Nesse contexto, ao longo das décadas de 1960 e 1970, os diversos movimentos de transformação que surgiram em nações americanas foram atacados pelo interesse das elites nacionais. Para tanto, buscavam o respaldo norte-americano para que pudessem dar fim aos movimentos revolucionários que ameaçavam os interesses da burguesia industrial responsável por liderar essas ações golpistas. Com isso, a ingerência política dos EUA se tornou agente fundamental nesse terrível capítulo da história americana.

A perseguição política, a tortura e a censura às liberdades individuais foram integralmente incorporadas a esses governos autoritários que se estabeleceram pelo uso da força. Dessa forma, os clamores por justiça social que ganhavam espaço no continente foram brutalmente abafados nessa nova conjuntura. Ainda hoje, as desigualdades sociais, o atraso econômico e a corrupção política integram a realidade de muitos desses países que sofreram com a ditadura.
fonte:  http://www.brasilescola.com/historiag/militar.htm

Então a crença de um estado democrático, que dá liberdades individuais a todos, a crença de um atual "estado do bem", é idealista. Todo estado atual é governado por uma classe, que está no poder. Esse estado sofre pressões externas e internas para mudança, existem forças contraditórias em seu seio, enquanto ele se mantêm vivo graças a sua hegemonia nos aparelhos da sociedade civil (midia, igreja, escola, etc) e, quando necessário, ele utiliza sua força militar. Achar que um determinado estado está isento dessas forças internas e externas, achar que um estado não prive a liberdade de alguns cidadãos para continuar no poder, é idealismo. 

Sobre a segurança nos aeroportos, só posso dizer que isso é uma piada. Ao chegar e sair de Cuba, o fiz no horário da madrugada. Absolutamente ninguém ameaçou roubar minha mala, nem de ninguém que estava ao meu redor. Aliás, vi poucas malas enroladas com aquele plástico. Diga-se de passagem, tanto no Brasil, Cuba e México (foram por onde eu passei, o México foi trânsito), existia esse tipo de plástico contra roubos, e a quantidade deles em Cuba era menor do que nos outros países (imagino que seja porque colocar aquilo é caro; eu mesmo não quis pagar o preço). A questão da anestesia também deve ser outra brincadeira. Todos os cubanos que conversei na rua, apesar de suas críticas a algumas característica do governo, ressaltaram que, dentre outras coisas, o sistema de saúde era de ótima qualidade. Não ouvi nenhuma crítica a esse respeito, e para tirar a dúvida somente é necessário analisar índices de saúde na ilha. 

(continua...)















terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Primeiro dia



      Meu avião pousou em Cuba de madrugada. Assim que cheguei troquei alguns dólares por CUC e comprei um mapa de Havana no próprio aeroporto, se não me engano por 6 CUC. Uma dificuldade é você conseguir fazer ligações de madrugada no aeroporto em telefone público, porque antes disso é preciso comprar um cartão de ligações. Somente em outra ocasião minha namorada conseguiu achar onde comprar esse cartão de madrugada no aeroporto; eu não sei onde foi. A sorte é que meu celular estava desbloqueado para fazer ligações em Cuba, e por isso consegui ligar para Nelson e avisar que tinha chegado (com um péssimo espanhol – na volta para casa ainda estava ruim, mas já conseguia me comunicar com certa facilidade). Cheguei na casa dele as 3h da manhã e durmi até as 10h.
      Nesse primeiro dia o objetivo era conhecer alguns pontos principais de Havana Velha, mas não saímos com uma rota rígida. Depois, e a partir daí, descobrimos que quando se está hospedado nesse bairro não é preciso pegar nenhum transporte. Havana Velha é pequena, e dá para conhecer toda essa parte andando, com tranquilidade. Aí o ponto positivo de se hospedar nesse bairro.
        Uma coisa a se explorar da proximidade dos locais, é não comprar nada na pressa. Geralmente se acha a mesma coisa com um preço bem barato depois (eu vou dar as dicas de compras na medida que for postando). Eu não fiz isso, mas aconselho quem for ficar em Havana Velha por um bom número de dias (fiquei 7 dias e daria pra fazer isso tranquilamente) anote onde tem certa coisa e a que preço, e só depois de um tempo decida o que é mais barato e melhor, e vá comprar.
      A casa de Nelson fica quase de esquina para uma avenida, onde está a Alameda de Paula, que beira a Bahia de La Habana. Nesse local, quase que diariamente, de manhã havia meninos fazendo atividade de educação física. Essa Alameda é datada da época dos espanhóis. Ao fim (indo para o sul, mas não fomos por aí nesse dia), se localiza a antiga Igreja de São Francisco de Paula. Por detrás dessa igreja está o Mercado São José, onde se pode comprar artesanato, fotos, quadros, bugigangas, etc.
Alameda de Paula

Alameda de Paula

Igreja de São Francisco de Paula

        Fomos para o norte, e logo vimos o Museu do Rum, bem próximo a nossa casa. Achamos caro a explicação do processo de fabricação (incluindo a degustação no final) e fomos somente para a loja. Compramos algumas coisas; como eu disse, achei mais tarde algumas bebidas mais baratas em mercadinhos espalhados por aí. Continuando andando, saímos da avenida e entramos nas ruazinhas em direção à Praça Velha. No caminho conhecemos nossa primeira praça cubana. Lá as praças são muito tranquilhas, bonitas e limpas. É um bom lugar para se sentar, descansar e observar o ambiente. No local estavam algumas meninas com farda da escola. Saí e fui para a Praça Velha.
Museu do Rum

Museu do Rum

Praça à caminho da Praça Velha

Praça à caminho da Praça Velha

Praça à caminho da Praça Velha

        A Praça Velha é bem interessante. É ampla, passou por reforma a pouco tempo (e portanto está em ótimo estado), e como principais pontos tem uma cervejaria, uma cafeteria e o planetário. O serviço da cervejaria é péssimo, mas principalmente à noite a cervejaria e a cafeteria são bons locais para uma conversa. Não fui ao planetário. Regularmente há na praça atividades para as crianças, e a noite e no final de semana há várias crianças brincando (como a praça é ampla, há bastante espaço para elas correrem). Em dias posteriores havia uma palhaça fazendo brincadeiras, e no outro creio que havia um ensaio do que seria a comemoração do natalício de José Martí.
Provável ensaio para o natalício de Martí (cervejaria por trás)

Crianças brincando com a palhaça

Praça Velha

Praça Velha (cafeteria)

         Saindo daí, passei pela Bodeguita (não há nada demais para ver, somente é um bar conhecido) e fui para Praça da Catedral, onde está a Catedral de La Habana. É uma praça que mantém a arquitetura antiga, tem alguns restaurantes e essa catedral. Pra quem gosta de ver construções antigas ou é religioso, é interessante entrar na catedral. Como não gosto nem sou, rumei direto para o Castillo de la Real Fuerza, que fica beirando a Bahia de Habana, sendo que bem ao norte de onde estava hospedado. A muralha foi construída em 1561 a mando de Felipe II. É uma réplica reduzida de outra grande fortaleza espanhola. Na época, Cuba era pouco habitada, e por isso alvo de piratas. O Castillo foi construído visando a defesa de Cuba desse comerciantes/assaltantes.
Bodeguita

Praça de Catedral

Praça de Catedral

Catedral de La Habana

Visão da Bahia

Visão da Bahia

Castillo de la Real Fuerza


Castillo de la Real Fuerza

Castillo de la Real Fuerza
         Voltei para minha casa. À noite saí bem rápido para conhecer um pouco das ruas de Havana Velha nessa hora (pois estava cansado e como legítimo cidadão pernambucano meu instinto me dizia para não sair de noite em ruas escuras). Durante a noite passei por algumas organizações sociais, e apreciei um pouco a tranquilidade daquela primeira praça que tinha passado durante o dia. A noite é ainda mais relaxante.
Praça à noite

Praça à noite

Praça à noite

Comitê de Defesa da Revolução

União nacional dos historiadores de Cuba

Assembleia municipal do poder popular

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Documentos



        Essa vai ser uma postagem que visa somente esclarecer o que é necessário em relação à documentação (e algumas coisas relativas ao preparo da viagem) para viajar à Cuba. Então os que esperam qualquer outro tipo de informação, provavelmente não vão ser satisfeitos.
Documentação exigida pelo governo brasileiro:
  1. Todo voo para o Caribe, partindo do Brasil, exige que os tripulantes tomem vacina contra febre amarela, que pode ser conseguida gratuitamente em postos de saúde. É importante tomar, no mínimo, com uma antecedência de 10 dias da viagem (a vacina tem anos de validade, então acho que quanto antes tomar, melhor). A enfermeira me informou que esse é o tempo que a vacina demora para fazer efeito. Além disso, as vezes há o efeito colateral, algo parecido com uma gripe. Então é melhor passar esse efeito aqui no Brasil do que em Cuba. Depois do processo, vão dar um carimbo na sua carteira de vacinação (se já tem a carteira, levar no dia; se não, vão lhe dar no posto). Esse carimbo só funciona no Brasil, então é necessário ir na Anvisa (creio que há nos aeroportos) com a carteira de vacinação para retirar um documento internacional.
  2. Claro, o passaporte.

    Documentação exigida pelo governo cubano:
  1. O visto cubano, chamado de Tarjeta de Turista. É um papel que você compra aqui no Brasil, que é composto de duas partes: quando você entra em Cuba, o pessoal da imigração destaca uma parte, e a outra fica com você. Ao sair de Cuba, o mesmo pessoal vai pedir a outra parte. Então cuidado para não perder a segunda parte enquanto estiver na viagem.
  2. O Seguro Viagem. Caso aconteça algum acidente na ilha, você vai ter assistência médica. Apesar de não me pedirem o seguro em nenhuma etapa da viagem, minha amiga disse que era necessário e eu comprei. De qualquer modo, considero importante tê-lo.
       Há várias formas de adquirir a Tarjeta e o Seguro. Me parece que um deles você pode comprar no aeroporto, mas eu preferi já ter os dois antes da viagem. Então aconselho que você procure alguma agência de turismo perto da sua casa que faça esse serviço. Como não encontrei nada por aqui (Olinda - PE) solicitei os documentos na Sanchat Tur (http://www.sanchattour.com.br/), que fica em São Paulo, e eles me enviaram por Sedex. O serviço deles é ótimo, então aconselho comprar em outro local somente se o preço for melhor.
  1. Aconselho você ter em mãos o local onde vai ficar hospedado. Não me pediram no aeroporto, mas acho que pode ocorrer.

      Dinheiro: Há duas moedas correntes em Cuba, o Peso Convertible (conhecido como CUC) e o Peso Cubano. Você, o turista, vai usar o CUC para quase tudo: restaurantes, compras no meio da rua, pagar hotéis/casas de aluguel, ônibus de turismo, mercadinhos no meio da rua (água, comida, produtos de limpeza...), taxi, bicitaxi, cocotaxi, etc. As únicas situações onde eu precisei dos Pesos Cubanos foi para pegar um ônibus normal dos cubanos ou uma máquina (espécie de kombi, sendo que é um automóvel antigo). Na verdade para pegar uma máquina dei 1 CUC pela passagem; valor maior do que geralmente é cobrado quando se paga em Pesos Cubanos. O ônibus de cubanos que eu peguei custou 40 centavos de Pesos Cubanos.
        Acontece que essas duas últimas opções podem não ser interessantes para turistas, porque é necessário saber quanto custa, saber as rotas e o ônibus é lotado. Eu peguei porque cubanos que eu confiava me deram auxilio, mas mesmo assim tive que me virar no meio da rua. Por outro lado é interessante para você saber como um cubano se transporta.
        De qualquer forma você deve chegar à Cuba portando Euro ou Dólar. Você não vai comprar nada com essas moedas, então é indicado que você vá trocando pouco a pouco esse dinheiro por CUC. Não troque nada por Pesos Cubanos, porque provavelmente você não vai usar. Caso seja necessário por alguma eventualidade, sugiro você trocar depois (na minha situação, os cubanos que eu conhecia me deram; mas acho que nos bancos você pode fazer essa troca, sendo 1 CUC mais ou menos 26 Pesos Cubanos). Você deve trocar nas Cadecas (tem uma logo no aeroporto, troque para pagar o taxi; tem também no Mercado San José, na rua Obispo, e mais espalhados pela cidade) ou nos Bancos. Sempre que for trocar, leve o passaporte, pois vão pedir o número.
       Sugiro que você utilize Euro, porque se estiver com Dólar vai ser necessário dar 10% do valor que você vai trocar ao Banco. Isso acontece porque o Banco dos EUA não comercializa diretamente com o Banco Nacional de Cuba, então este último tem que arranjar outro comprador. Isso causa uma perda de dinheiro, que é repassada ao turista na forma de 10%. Por causa disso, se você der 100 dólares, você recebe em troca 86 CUC (deste valor já foi retirado a taxa); e 100 euros custam entre 110 e 140 CUC (quando eu fui estava 130 CUC). Para ver com exatidão, confira em http://www.bc.gov.cu/Espanol/default.asp na parte “Tipo de Câmbios para Hoy”. Faça as contas e veja qual melhor moeda a se levar.
        Quando for embarcar de volta para casa, você tem que pagar uma taxa de embarque de 25 CUC. Não se preocupe porque tem uma cadeca ao lado do local onde você tem que pagar a taxa. Depois disso, aconselho que você troque todos os CUC que você tiver de volta para Euro ou Dólar, porque uma vez embarcado esse dinheiro vai ser inútil (a menos que você queira comprar algo na área de embarque; há também uma cadeca lá dentro).
        Para mais informações, inclusive sobre casas para estadia ou hoteis, procure em http://oguiadecuba.blogspot.com/ (que foi onde tirei mais informações da minha viagem) ou me mande um e-mail (lucasgmesquita@gmail.com). Eu indico ficar em casa de aluguel, que é bem mais barato e você se sente mais em casa. Eu fiquei na casa de Nelson (tem falando no site que eu cabei de indicar), que é bem localizada no bairro de Havana Velha e limpa. De lá, você pode ir andando para todos os locais de Havana Velha, o que economiza um bom dinheiro. Além disso, o café da manhã deles é ótimo e o pessoal da casa é gente boa. Para não ficarmos sem foto, aí vão algumas da casa:
Rua da casa

A casa

Café da manhã

Café da manhã

Rua da casa

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Introdução


      Viajei para Cuba em 16 de janeiro de 2012, chegando lá no dia 17, e voltando dia 27 do mesmo mês pela madrugada; portanto tive 10 dias “úteis” na ilha. Dentre esses dias, em dois deles fui para uma excursão de dois dias por Santa Clara, Trinidad, Sancti Spíritus, Cienfuegos; e no último dia fui para Varadero com finalidade somente de curtir a praia, porque lá praticamente só tem turista. Os sete dias restantes fiquei em Havana, hospedado no bairro de Havana Velha.
Rua Merced, onde fiquei hospedado (casa de Nelson).


    A natureza das postagens vai variar entre observações e opiniões particulares, e informações técnicas sobre a viagem (roteiros, documentos necessários, dicas). Acredito que é isso que interessa as pessoas que estão planejando viajar para Cuba, ou tem pouca informação sobre o local. Então o intuito do blog é incentivar o turismo e o estudo científico dos leitores e de mim mesmo.
        A viagem teve o objetivo principal de desmistificação de Cuba. As pessoas tem o costume de falar muito sobre o que não conhecem, e essas opiniões sempre são acríticas ou preconceituosas. E esse país tem o carma de concentrar essas opiniões a seu respeito. Já vi “esquerdistas” assimilando Cuba com a perfeição, com o paraíso; e se você abrir os ouvidos por 10 minutos deve escutar alguém fazendo críticas que foram absorvidas sem nenhum senso crítico de programas de TV como Jornal Nacional (não ouso nem chamar de jornal) ou algumas midias impressas, que são como livros de ficção porque o escritor diz o que quer (ou o que lhe é mandado) independente de condizer com a realidade, como a Veja. Desta forma, lá fiquei de olhos e ouvidos abertos para analisar essa sociedade; sabia que em 10 dias não poderia me tornar um profundo conhecedor, mas já valeu mais do que os 21 anos de contrainformação que tive aqui no Brasil.
        Algumas informações:
  1. A educação e a saúde são públicas, universais e de boa qualidade.
  2. Há uma diferença enorme entre as atividades das crianças em Cuba e no Brasil. Em todos os dias e em todos os lugares que eu fui em Cuba eu vi as crianças de lá indo ou voltando do colégio, nos colégios, nas praças fazendo atividades escolares de educação física ou conhecendo os pontos históricos, e portanto a história de Cuba; e nos finais de semana jogando beisebol, futebol ou brincando nas praças. De fato o conceito teórico de ampliar o local físico da escola para toda a cidade que eu aprendi na universidade é aplicado na ilha, ao contrário do Brasil. Todos esses dias eu não vi uma criança passando fome, não vi uma criança sem perspectiva, não vi uma criança abandonada pelo estado. No mesmo dia que cheguei ao Brasil me deparei com a notícia de despropriação de 2000 casas do local, que já poderia ser considerado como um bairro pela sua vastidão, conhecido como Pinheirinho pelo governo de SP para devolver o terreno a um empresário falido, que já não pisava lá havia 7 anos. Vi novamente, nesse local, crianças com fome, sem escola, sem moradia. Vi novamente o rosto de uma criança que não é uma criança, não tem no seu dia a dia atividades de criança.
    Crianças cubanas após fazerem educação física numa praça perto de onde estava hospedado. Era comum eu acordar de manhã e ao sair ver essas atividades no local, sempre acompanhados por um professor(a).

    Crianças na Praça da Revolução conhecendo a história de Cuba. Aí fica o memorial José Martí, e durante minha visita percebi vários grupos escolares do tipo.
    Final de semana: crianças brincando nas praças.

  3. Uma das consequências do item anterior é a inexistência da palavra “trombadinha”, “menino de rua”, no vocábulo cubano. Portanto as crianças, com uma imensa probabilidade, não viram marginais. A minha experiência demonstrou o que grande parte das pessoas esquecem (porque a grande mídia não passa essa mensagem, e sim o seu contrário): a existência de criminosos, em gigantesca parte, não é devido a maléfica natureza humana de alguns; e sim pelas condições em que os seres humanos são postos pela sociedade. De fato, não existe natureza humana, eterna, imutável. A consciência do homem é posteriori a sua existência, i.e., primeiro o homem existe, nasce, e depois a sua consciência é formada pouco a pouco pela educação, cultura, exemplos. Dai vem a liberdade de você andar pelos bairros mais pobres de Havana, de madrugada, com péssima iluminação, e não ser ameaçado.
  4. Isso não faz do cidadão cubano um ser humano perfeito. É necessário aqui fazer contraponto à imagem que alguns idealistas da esquerda fazem de Cuba e de sua sociedade. Inicialmente, o óbvio é que cada cidadão é diferente de outro. Apesar de lá eu conhecer pessoas maravilhosas que me acolheram em suas casas, ou que conversei espontaneamente nas ruas, a grande parte das minhas experiências com pessoas, e isso foi extremamente repetitivo, foram de um mesmo tipo: perguntam de onde você é, e logo depois da sua resposta veem com uma conversa que gostam muito do seu país, falam das novelas, futebol, carnaval; tudo isso com um interesse final de pedir ou vender algo. De fato, creio que isso aconteça em boa parte do mundo com turistas, e me aconteceu com maior frequência quando estava em bairro turístico. Apesar de não haver assalto, tentam vender charutos falsos a você, tentam vender ingresso de show que não existe. Quando eu estava subindo no ônibus, que é lotado de pessoas, furtaram meu celular. Só fui perceber um bom tempo depois. Então há pessoas que não querem trabalhar, há pessoas que querem ganhar algo na conversa, etc.
  5. Percebi que há um quantidade considerável de idosos trabalhando ou pedindo coisas nas ruas (em partes turísticas). A minha interpretação disso é o seguinte: o fato inegável é que Cuba é um país pobre materialmente. Creio que para complementar a renda, para complementar a aposentadora, muitas pessoas escolhem continuar trabalhando, e outras escolhem ir pedir nas ruas. A diferença é que, nas mesmas ruas que você passou de manhã e viu um idoso pedindo dinheiro, se você passar a noite ele não está mais lá. Você não vê ninguém dormindo nas ruas, seja criança, trabalhador, idoso; isso indica que todo mundo tem uma casa, com comida, com saneamento. Não é bom que um idoso muitas vezes tenha que trabalhar ou pedir coisas na ruas, mas se você for comparar com o Brasil que ao sair da faculdade você vê toda uma família vivendo, dormindo, se alimentando na calçada, termina que é uma situação menos ruim. É bom também falar que andando por Havana eu vi várias casas geriátricas, com os idosos fazendo exercícios ao ar livre auxiliados por enfermeiras. Só pude notar isso a olho nu, mas considerando o serviço público social cubano, acredito que lá eles tenham medicamentos, cuidados especiais, etc.
    Idoso trabalhando em Santa Clara

    Idoso que ficou seguindo nossa excursão (enchendo o saco!) pedindo dinheiro em Trinidad

    Casa geriátrica em Havana Velha com as pessoas fazendo exercícios

  6. Cuba, de fato, é um país pobre materialmente. Claro que no Brasil as diferenças sociais são imensas; mas uma pessoa de classe média baixa já pode ter internet em casa, carro, algumas tecnologias como celulares mais modernos. Na ilha isso é muito difícil. Claro que no Brasil muitas vezes a pessoa se atola em dívidas para conseguir essas coisas, trabalha que nem um escravo alienado. Mas o que eu quero assinalar é a pura existência material. Isso tem razões, que na maioria das vezes não são analisadas e o fato é simplesmente mostrado com motivação de descreditar o modelo socialista. Dois desses fatos, que eu acho mais importantes, são: primeiro e principalmente, o bloqueio e o terrorismo que os Estados Unidos praticam contra a ilha; e a existência de muitos cubanos que querem simplesmente se apoiar no estado, sabendo que vão ter saúde, comida e moradia de qualquer forma. Claro que há erros do governo também, mas não acredito que o governo quer deixar os cubanos sem acesso a internet para controlar a população (como se a população não fosse informada de outras formas sobre acontecimentos nacional e internacionais) ou Fidel quer deixar a população pobre e se beneficiar de seu trabalho (risos). Eu acredito que essas reformas econômicas que estão sendo aplicadas, e a aliança comercial na América Latina, são de enorme importância para o futuro de Cuba. Por isso a imprensa burguesa diaboliza tanto a visita de Dilma à Cuba, e a imprensa de Cuba a enaltece tanto. Sem desenvolvimento material não há comunismo, e eu acredito que o governo cubano está buscando isso.
    Carros antigos

  7. É importante ressaltar que mesmo com péssimo desenvolvimento material, há uma energia enorme do governo para proporcionar uma boa qualidade de vida, e com esse esforço posso citar: remédios gratuitos para doenças como diabetes, leite gratuito para todas as crianças, vacinação gratuita e obrigatória contra uma grande quantidade de enfermidades, combate à epidemias (quando estava lá, vi o pessoal combatendo a dengue com aquelas máquinas que soltam fumaça), escolas e faculdades para todos e com qualidade, trasporte (apesar de antigo e lotado) quase de graça, assistência à gestantes, etc, etc, etc. E isso resulta nos índices que todos conhecemos.